sábado, 3 de dezembro de 2022

DESINFORMAÇÃO EM REDE: A CRIAÇÃO DA REALIDADE PARALELA

 



O advento da internet e suas imensas possibilidades de compartilhamento do conhecimento favorecem a criação de uma inteligência coletiva, esta premissa, foi defendida pelo escritor francês Pierre Levy durante os anos 90. A possibilidade de novas formas de leituras através das superfícies hipertextuais, escritas coletivas e a infinitude dos links (conexões) no modo das costuras digitais, colocaram em cena, uma nova promessa de desenvolvimento coletivo planetário.

Contudo, o acesso às tecnologias da inteligência tem instalado grandes desafios para os países e suas instituições nos dias atuais. O entrecruzamento de informações desinformantes (mentiras vestidas de verdades) tem provocado o surgimento de diversos mundos paralelos, talvez a facilidade e o comodismo que afeta boa parte das pessoas que preferem receber a “verdade” pronta, por meio das imagens forjadas ou editadas com auxílio de tecnologias como o Deep Fake, têm produzido um grande ruído na sociedade contemporânea, haja vista a velocidade com que estes recortes desinformantes circulam pelas diversas camadas sociais, não permitem contestações tempestivas dos usuários que são alcançados pelas redes sociais, além disso, a disposição frenética que cada membro do mundo digital desenvolve no intuito de consumir o máximo de informações numa velocidade acrítica, amplia cada vez mais seu acesso às engrenagens de uma realidade paralela azeitada pelas informações desinformantes.

O cenário de confusão é geral, chegamos ao ponto de pessoas na fila do supermercado, da farmácia, mesa de bares e até na pausa para o cafezinho, comentarem as pautas com mais aderência nos apps de redes sociais, sem falar que o modo de contestação mais utilizado reside na apresentação de uma imagem ou um texto (geralmente sem autoria) que circulou pelo grupo do Zap da família. Ou seja, a capacidade de simulação de uma realidade paralela tem se tornado uma instância real na sociedade moderna, o afastamento da maioria das pessoas do conceito de dúvida, a supressão da contestação e a incapacidade de fundamentação baseada em métodos razoáveis, parece conduzir boa parte dos usuários das redes sociais ao abismo da ignorância, ao ponto de defenderem qualquer coisa, por mais inusitada que seja, baseando-se apenas numa imagem ou um texto compartilhado por um amigo, pessoa famosa ou parente no grupo da família. Todos estes elementos apontam para um novo comportamento social, funcionam como um instrumento para a simulação de uma realidade paralela abstrata, comprometendo de forma drástica o resgate da realidade concreta, outrora, assentada em fatos, métodos e fundamentação científica.

Por outro lado, podemos ainda apreender todo este contexto distópico como resultado da aplicação de técnicas da psicologia de massa, as grandes corporações quando desenvolveram tais aplicativos aparentemente já sabiam a dimensão do poder de controle sobre as pessoas diante da ampla penetração social dos aplicativos de mensagens.

Portanto, o grande desafio das instituições que compõem o Estado moderno é a retomada das discussões referentes aos problemas e soluções minimamente concretos, pois numa atmosfera onde pessoas apontam até seus celulares para o céu achando que vão se comunicar com seres extraterrestres, outros afirmam “sem provas” verem entidades descerem em pés de goiaba e alguns se recusam a tomar vacina com medo de “virar jacaré”, certamente, a condição racional humana parece ter se diluído por meio das linguagens propagadas pelas redes sociais, colaborando assim, para a construção de um mundo paralelo capaz de capturar multidões.


Saudações Democráticas,


Dayvid Sena

Professor Mestre em Estudos de Linguagens



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