terça-feira, 19 de janeiro de 2021

A Virada Política de Jacobina e a estruturação de um Governo Híbrido.




É verdade que o povo jacobinense se surpreendeu com a chegada de uma liderança política jovem e estranha aos coronéis políticos locais, um ícone que construiu sua trajetória a partir da organização de associativismo rural, trabalho que lhe rendeu dois mandatos de vereador e o recém iniciado mandato de prefeito na cidade de Jacobina.

Entretanto, a coesão vitoriosa desta façanha não seria possível sem articulação de atores políticos de vários partidos e grupos sociais distintos, todos envolvidos por uma narrativa discursiva de confronto às práticas viciadas decorrentes do sistema político hegemônico. Neste sentido, o candidato pleiteante ao cargo de prefeito encampou uma série de discursos que ecoaram no imaginário social de modo  persuasivo a maioria dos eleitores. Todavia, o sentimento de mudança nos rumos políticos de Jacobina também era um reflexo sintomático do cenário politico nacional, fato que foi bem aproveitado pelo grupo que orbitou a candidatura.

A caminhada política de Tiago Dias, agora prefeito, reflete uma postura de enfrentamento ao modelo de gestão pública instalado na maioria dos sertões nordestinos, onde uma figura populista, geralmente oriunda de família abastada, exercia o Poder com o apoio de um pequeno grupo que lhe prestou apoio financeiro para alçar o Poder. Desta forma, o prefeito Tiago Dias (PCdoB), até o dia da posse, conseguiu manter um formato historicamente distinto do que acabamos de citar. Decorrido o prazo de diplomação e assunção do cargo, inicia-se a composição de um novo governo, ao que parece, o foco na campanha eleitoral e sua operacionalização deixou algumas lacunas nos critérios que seriam seguidos num eventual resultado eleitoral vitoriosos, sobretudo por ser fruto de uma coligação formada por aproximadamente 9 legendas, destas, 5 com comissões diretivas ativas. Por este viés, o governo “Dias Melhores” teve seu início priorizando as composição dos cargos de secretariado onde o PP teve 2 cargos, 2 do Podemos, 1 do PSB, 1 do PL sendo os demais escolhidos dentro da alçada pessoal do prefeito eleito.

Um fato interessante neste contexto decorre da delegação para escolha de 2 secretários pelos segmentos sindicais da APLB e da CDL respectivamente defensores dos interesses dos docentes e dirigentes lojistas da cidade. Numa breve análise à luz do referencial teórico de Maingueneau que versa sobre o “Ethos Discursivo” ou seja, a imagem que o prefeito buscou passar com esse ato de delegação para as entidades sindicais foi de que seu governo teria espaço para uma participação democrática extrapartidária, ainda que estas instituições tivessem distintos posicionamentos políticos ideológicos, inclusive contraditórios quanto aos assuntos políticos de seu espectro originário. Por conseguinte, ressaltamos que trata-se da formação de um governo híbrido, exceto as nomeações que foram decorrentes da indicação sindical (Patronato e Professores), as demais nomeações foram ocorrendo em sua maioria por encaminhamentos pessoais de agentes políticos que controlavam os supracitados partidos, grande parte sem debates coletivos ou deliberações intra-partidária ampla e democráticas, talvez por isso, colheu-se resultados adversos como no caso da disputa pela presidência do Legislativo Municipal, estes fatos devem ser examinados pois temos uma tarefa histórica e não devemos comungar com um eventual governo baseado no “toma lá da cá”.

Portanto, surgem alguns questionamentos: Até que ponto um governo híbrido sem um programa comum ( Elaborado, Conhecido e Integrado por todas pastas da máquina pública) que defenda as pessoas e os trabalhadores (as) em risco social, uma agenda que de fato seja fruto de deliberações coletivas da sociedade, partidos e instituições que emergem dela, contemplando o que o candidato chamava de transparência e participação popular, pode se fortalecer para além da virtualização em redes sociais? Qual é a expectativa do governo sobre a conduta operacional da administração pública no que tange ao combate dos vícios enraizados historicamente no fazer administrativo da maioria das cidades? O ato recentemente publicado para contratação (inexigibilidade licitatória) de “advogados” é um ato legal, entretanto pode dar motivos para outras interpretações, concordam? Teriam essas evidências alguma semelhança com os modelos coronelista anteriores? Seria o aumento compulsório da TIP (Taxa de Iluminação Pública) um exemplo significativo de que agora “somos o Estado”? “Somos” mesmo, porém que sejamos um Estado mais humano e consideremos as circunstâncias da população em sua maioria, essa é a nossa singela expectativa. Sabe-se que os sinais dados pelas urnas de Jacobina exige uma compreensão ampla, sob pena de se manter os mesmos problemas alimentados nos últimos 30 anos, sendo que desta vez, não podemos maquiar com marketing, paixões ou idolatrias, deixemos isso de lado e façamos uma gestão qualitativa do erário.

Em conclusão, nossas inquietações são fruto de um olhar cidadão que percebe de forma desapegada e crítica o momento histórico que conquistamos, pois, não desejamos que os interesses individuais de figuras orbitantes do Poder possam atrapalhar as expectativas de uma sociedade que vive há mais de trinta anos num dualismo político vazio e talvez responsável, em parte, pelos mais perversos prejuízos econômicos, histórico-culturais e estruturais para nossa cidade, um pequeno recorte desta constatação, é o fato dos últimos 12 anos as pautas das rádios girarem em torno de “buracos na rua” e “lâmpadas em postes” dentre outra demandas elementares para uma cidade do porte de nossa querida Jacobina. Precisamos avançar, cabe a cada um de nós construir Dias Melhores de Verdade !!!

Saudações Democráticas,

Dayvid Sena

Vice-Presidente do PCdoB Eleito - Filiado desde 2004