domingo, 16 de fevereiro de 2025

Dos roteiros de filme para a vida real: Uma leitura do mundo a partir de sentidos paralelos produzidos pelas Social Media.


 

Há pouco tempo, nossa geração alugava VHS para acessar as narrativas fílmicas empolgantes produzidas pela indústria americana. Entre os principais temas que chamavam atenção estavam os filmes que projetavam uma imagem futurista, chamada de ficção científica. Enfim, após a virada do século XXI e o advento de diversas tecnologias baseada em chips ultra rápidos e a capacidade de conexão da maioria de pessoas do mundo por meio dos dispositivos móveis, fez com que aquela ideia de ficção, ora projetada nas telas de filmes, se tornasse uma realidade quase concreta.

Neste cenário, nosso objetivo é avaliar o quão perigoso e complexo é esta realidade atual, sobretudo pela incapacidade da maioria dos sujeitos confundirem as informações que circulam no mundo virtual com o plano concreto dos acontecimentos reais, baseado em fatos e com materialidade. Deste modo, estamos a cada instante, construindo uma noção de mundo real, geralmente baseada nos dados de desinformações que circulam no mundo cibernético. Segundo a pesquisa de Max Fisher (2023) em seu livro “A máquina do Caos” dentre outras coisas, as redes sociais se estabelecem como os sinos da igreja na idade média, ou seja, as pessoas acessam desinformações divulgadas nas respectivas redes, e, num movimento tribal, promovem um linchamento público de pessoas e/ou grupos sociais. Na grande maioria das vezes por motivações morais, um impulso comunal que se inscreve nos algoritmos geridos pela META, atualmente o maior monopólio de SOCIAL MEDIA no mundo, instalado em cada smartphone desde o momento da sua compra na loja.

Dentre os diversos desafios instituídos por estes dispositivos, o principal, versa sobre a capacidade do Estado em criar mecanismos que eventualmente possa responsabilizar e garantir que estas plataformas realizem checagens antes de divulgar informações desinformantes em suas plataformas. Sabe-se tal procedimento é essencial e congrega decisões éticas que visam proteger a sociedade de modo geral, haja vista, a incapacidade de reconstruir a linha que separa o real e o virtual na vida e na visão da maioria das pessoas. As redes sociais se estabelecem como uma entidade messiânica, capaz de levar a bilhões de pessoas, o que supostamente é a “verdade”, ou seja, o “verbo” e o que se trata de ameaças a tais verdades tribais ancoradas em opiniões, podemos citar a fala da Casa Branca durante a pandemia onde o então presidente recomendou ingestão de alvejante diluído para combater os sintomas da COVID19 dentre os casos mais inusitados. Portanto, tais exemplos mostram o rastro dos absurdos que são impulsionados pelo algoritmo destas redes, produzindo efeitos de sentido na vida de milhares de pessoas pelo mundo interconectado.

Em função deste contexto, nossa visão de mundo pode estar a cada vez mais distorcida, a vulnerabilidade afeta pessoas e também instituições, evidenciamos a cada instante assassinatos de reputações e linchamentos públicos sem a devida cautela ou direito de defesa, a sociedade atual se comporta, em sua grande maioria, como na idade média, seus instintos são estimulados por desinformações com aparência de verdade, e, tais linguagens, colocam o direito internacional e o Estado Democrático de Direito de diversas nações num abismo. Contas clonadas, identidades virtuais hackeadas, roubo de dados, divulgação de mentiras em massa, polarização política, guerras eternas e o surgimento de imperadores da “verdade e da moral” se instauram como sintomas de mundos paralelos produzidos pela Social Media e a cibercultura nos dias atuais.

Enfim, vivemos num grande laboratório da psicologia de massa, onde, Adorno (2015) nos lembra que “A estereotipia se aplica não apenas à difamação de judeus, ou de ideias politicas, tal como denúncia do comunismo ou do capital bancário, mas também a atitude e assuntos aparentemente bastantes remotos”. Isto é, tais práticas reforçam o comportamento de agitadores tribais tal como ocorreu quando a “verdade” de Hitler converteu um exercito de pessoas com sede de “justiça” ainda que para isso, a vida de milhares de pessoas fossem aniquiladas sem crime, sem defesa e sem misericórdia, nos dias atuais, lembremos do caso Arruda, morto em seu aniversário por um agente tribal, infelizmente, esta é a imagem que se instaura nos mundos paralelos controlados pelas Bigtechs, reflete uma concentração de poder antes visto apenas nas telas do cinema nem nos filmes de VHS. É tempo de despertar!!! O “midnight clock” não está em favor da Humanidade, o tecno feudalismo avança sob uma sociedade confusa e sem memória, guiada pelos feeds e stories que os detentores da tecnologia permitem acessar.



Dayvid Sena

Prof. Ms. Em Estudos de Linguagens.