sábado, 5 de fevereiro de 2022

A comunicação das "rádias" jacobinenses e a definição de suas pautas: Uma abordagem política.


"Jornalismo é serviço público, não espetáculo" Alberto Dines.

    No intuito de retomar as reflexões sobre a nossa atmosfera sociopolítica municipal, sobretudo após um ano assistindo o comportamento discursivo dos microfones das rádios no que tange às pautas jornalísticas sobre a política local, vamos examinar alguns aspectos da comunicação radiofônica sob uma ótica crítica, sem a pretensão de ofender quem quer que seja, mas investigando as ondas do rádio como um objeto de estudo, um organismo ideológico integrado ao tecido social.  
    Neste sentido, salientamos que o conjunto das emissoras de rádio locais, se caracterizam como rádios comerciais, ou seja, veículos de informação que possuem sua atividade essencialmente baseada na venda de produtos e propagandas por meio da publicidade patrocinada, seja com recursos privados ou  públicos. 
    Dito isso, traçaremos uma pequena análise do modo como estas emissoras passaram a organizar a pauta de seus programas jornalísticos, sobretudo após a ruptura histórica nas forças que ora conduziam o Poder Executivo local. Aqui, vale ressaltar que desde a redemocratização, o Poder Executivo municipal nunca havia sido tirado das mãos dos caciques tradicionais, isto é, sempre transitava de uma família para outra, numa espécie de Dinastia, orbitando numa seara hegemônica constituída geralmente pela classe médica jacobinense. 
    Pois bem, adentrando em nossa observação, inicialmente gostaríamos de destacar um ponto comum na mídia local, durante as gestões lideradas pelas classes supracitadas, boa parte dos programas jornalísticos, optavam por um enfoque nas pautas ligadas ao governo federal, ou seja, a maioria dos "microfones" deslocava o debate para o âmbito federal, deixando de elencar problemas importantes ligados ao universo municipal, tanto é que nas últimas 3 décadas, os cofres públicos receberam aproximadamente 22 bilhões de reais e quase nenhuma obra estruturante foi erguida no município, tudo isso, sob o silêncio de muitos "microfones" supostamente comprometidos com o bem coletivo. 
    Neste ponto, vale ressaltar que durante esse período,  a mídia local intensificou sua cobertura nas manchetes com enfoque majoritário em atos do governo federal, especificamente, a partir do ano de 2002, quando pela primeira vez no século XXI houve um governo fora da atmosfera hegemônica, isto é, fora do eixo das forças dominantes, quando o povo elegeu um presidente das bases. 
    Deste modo, trouxemos à baila alguns fatos que servirão de base comparativa com o cenário atual, uma vez que desde o ano de 2016 houve mudança no governo federal e logo depois (2020) também no governo municipal. Nesta perspectiva, as forças atuais que ocupam o governo federal parecem ter a simpatia da maioria dos dispositivos de rádio comunicação municipal, sobretudo quando observa-se um grande número de jornalistas sendo vítimas cotidianas de ameaças e até agressões por parte do atual presidente e seus prepostos, mas raramente os radialistas pautam as mazelas do desgoverno federal, haja vista que até a derrubada do governo em 2016, a enfase na esfera federal era realizado de forma recorrente e constante, portanto, tal comportamento anula a premissa de que os "microfones" das rádios locais são neutros, pois no mundo onde as regras políticas são ditadas pelo capital e as ideologias, nenhum sujeito e/ou instituição social pode atribuir a si próprio, condição de neutralidade. 
    Não obstante, depois das modificações no tabuleiro político municipal e federal, uma questão que vêm chamando a nossa atenção, reside exatamente no novo formato da organização da pauta jornalística. Antes, o foco maior era os supostos problemas do governo federal, agora, o foco é quase que total na administração municipal com destaque para o que os atores midiáticos chamam de "erros", afinal, sabemos que toda atividade humana é passível de erros e acertos, mas ultimamente, na interpretação dos "pregadores" do rádio, a recém empossada gestão municipal somente é capaz de cometer "pecados". 
    Geralmente, a maioria das abordagens visam desqualificar as ações do governo municipal.  Ao que parece, a mídia local, por algum motivo, elegeu o primeiro governo liderado por um lavrador rural, ou seja, por um sujeito que não integra as classes historicamente dominantes, como o responsável pela criação e solução de todos os problemas históricos vivenciados na administração pública jacobinense. 
    Vale ressaltar que nos últimos 30 anos de governos liderados por médicos e pessoas apoiadas por tal segmento, dificilmente se viu tantos investimentos na sede e na zona rural, inclusive qualquer pessoa pode comparar levantando o montante de recursos públicos que passaram pela prefeitura nos últimos 30 anos e as respectivas obras realizadas com recursos próprios, levando em conta uma dimensão proporcional ao tempo de governo, sobretudo por se tratar do primeiro ano de governo fora do eixo administrativo dos "doutores". 
    Para Bourdieu (1979), novas relações estruturais estão sendo estabelecidas entre domínios da vida social, redes de práticas sociais ou campos, notavelmente estes instrumentos de comunicação em massa contribuem e talvez condicionam a forma e o modo como os sujeitos deverão perceber, enxergar o mundo material a partir de uma dimensão global, regional, nacional e local baseada na reprodução de um discurso dominante, mas a cada instante, o papel destas narrativas estão perdendo a credibilidade no seio social, sobretudo pela forma parcial pela qual boa parte da mídia comercial serve aos interesses dominantes. Assim, a questão não é apenas pautar o acontecimento/fato, mas a forma como é pautada essa ou aquela notícia, os contornos discursivos onde se revela os posicionamentos ideológicos/políticos.
    A partir de uma abordagem linguística, é possível estudar e revelar o funcionamento discursivo dos atores radiofônicos bem como do discurso político na esfera municipal. Segundo Dijk (2008, p. 87) "uma das tarefas mais cruciais da análise crítica do discurso é explicar as relações entre o discurso e o poder social, mais especificamente, como o abuso de poder é praticado, reproduzido e legitimado pelo texto e pela fala de grupos ou instituições dominantes". Deste modo, uma das ferramentas primordiais neste tipo de manipulação, certamente é a mídia de massa tradicional, estes mecanismos penetram em todas as camadas sociais desempenhando um papel decisivo na formatação da opinião pública. Contudo, ele não é soberano, o advento de novas tecnologias a exemplo das redes sociais, blogs, Podcasts têm sido um contraponto importante na propagação de contra-discursos no contexto das disputas que giram em torno das administrações públicas.
    Por fim, sabemos da importância do bom jornalismo em prol da democracia e do bem comum, entretanto, quando os dispositivos de comunicação são gerenciados pelo capital privado, os objetivos comuns passam a ser substituídos pelos interesses de pequenos grupos sociais que detêm o capital e disputam o Poder, esta constatação, é facilmente verificada pelos sintomas atuais de parte da comunicação radiofônica local.  O jogo das pautas somado ao tom político pelo qual notícia é levada ao ar, exibe, materialmente, o quanto alguns veículos se tornaram torcidas organizadas, tais condutas eram bastante ofuscadas durante as gestões passadas.
    Em conclusão, Charaudeau (2016) afirma que o manipulador não revela sua intenção ou seu projeto, e o disfarça sob um discurso contrário ou sob outro projeto apresentado como favorável ao manipulado.  

Saudações democráticas, 

Dayvid Sena. 
     
       
     

2 comentários:

  1. Meu amigo, com o fundo eleitoral de quase R$ 5 bilhões, políticos veteranos se fortalecem para o pleito deste ano e devem sepultar de vez a alardeada renovação desse "seu" cenário. Tiveram, muitos candidatos novos que foram eleitos e continuaram a decepcionar nós eleitores. Um abraço !

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