domingo, 27 de novembro de 2022

A TV, a Radiodifusão e as Relações de Poder.

 



Certamente a mídia de massa como a TV e o Rádio desenvolvem suas atividades comunicacionais a partir das relações de poder estabelecidas por meio de uma pirâmide social que reflete a organização de classes. Em suma, os mecanismos massivos de comunicação operam para manter o status quo das classes dominantes sobre os ouvintes, destinatários e espectadores de modo geral. Esta característica supracitada pode ser percebida com pouco esforço no interior dos Estados, sobretudo pela importância e abrangência da mídia radiofônica, uma vez que é de praxe escutar a “rádia” como prática cultural consolidada no espaço urbano e rural.

        Neste sentido, pretendemos realizar uma breve reflexão sobre o tema, observando o comportamento das narrativas do rádio no interior da Bahia, em específico na cidade de Jacobina, onde apreciaremos os aspectos relativos às instalação destes dispositivos de massa e sua relação com as classes sociais, buscaremos construir um olhar crítico sobre as deliberações políticas que desembocam no controle e acesso ao discurso público por pequenos grupos sociais historicamente privilegiados.

As relações entre Discurso e Poder Social sempre desembocam no controle dos dispositivos de comunicação, estes embates implicam os diversos tensionamentos políticos, econômicos e socioculturais que sugerem o estabelecimento de uma rede de dominância entre as classes. Pensar que o rádio ou qualquer outra mídia de massa promove a visibilidade das pautas de modo neutro é mera ingenuidade, pois num horizonte capitalista, todas as pautas da comunicação nacional ou local são objeto da disputa política. Dentro deste enquadre, estamos assistindo neste exato momento as relações contraditórias da Copa no Mundo no Catár/2022, onde boa parte da mídia prefere dar visibilidade aos hotéis de luxo, regalias dos jogadores, edifícios grandiosos e outros símbolos de ostentação da riqueza ditadora real, deixando de exibir a exploração da mão de obra em regime de neo escravidão amplamente utilizada para erguer aquelas estruturas de concreto, ou seja, mesmo sabendo-se que milhares de vidas foram ceifadas sem a garantia mínima de direitos/dignidade para os trabalhadores e as famílias órfãs, a venda de produtos e o lucro se sobrepõe a qualquer sentimento de responsabilidade social ou dignidade da pessoa humana. Enfim, este é apenas um exemplo do poder de manipulação da mídia, a qual aponta seu microfone ou sua câmera para o objeto que atende seus interesses financeiros e políticos de primeira hora.

A suposta neutralidade do sujeito falante e destes dispositivos acerca de qualquer fato é uma premissa inalcançável, pois todo fato/acontecimento é passível de interpretação, assim, a instância da interpretação é onde reside o funcionamento das ideologias, são estas redes de sentidos que garantem os significados dos fatos e/ou acontecimentos no plano da interpretação de cada ator social.

            O que poucas pessoas sabem é que os serviços de rádio e televisão no Brasil e no mundo operam por meio de uma concessão pública, ou seja, a União concede uma licença para o uso do espaço "eletromagnético", frequência teoricamente pública geralmente operada por um ente privado. Para adquirir uma destas disputadas permissões é necessário ter boas relações com o Estado, sobretudo com deputados no nível federal, pois é no legislativo que se renova as concessões que são analisadas previamente pelo ministério das comunicações responsável por conceder e publicar os pedidos exigindo em contrapartida privilegiar a função social em detrimento do interesse privado.

Outro fato relevante, sobretudo no Estado da Bahia, as concessões de rádio geralmente são delegadas para particulares em regime de sociedade com os políticos, a exemplo disso podemos citar o caso das rádios Clube Rio do Ouro e da Jacobina FM ambas operando em Jacobina desde os anos 80. A primeira faz parte do grupo que inicialmente teve como sócio o ex-político Pedro Irujo que exerceu 4 mandatos de Deputado Federal e atuava como empresário em diversas áreas, dentre as quais o rádio. A segunda teve participação acionária do também conhecido político Félix Almeida Mendonça, ex-prefeito de Itabuna e deputado estadual e federal pela Bahia.

De modo geral parece existir claramente uma relação de conflito de interesses quando o assunto é a operação dos dispositivos da comunicação de massa, seja em rádio ou TV. Ainda nessa seara, lembramos do famoso episódio de um velho cacique da política baiana, Antônio Carlos Magalhães, na época ocupou o cargo de ministro das Comunicações do governo Sarney (1985-1990) quando contemplou seus aliados políticos com mais de 958 concessões de rádio e TV num eventual flagrante do uso destes mecanismos com moeda de troca política.

Desta forma, é importante avaliar as características sistêmicas das notícias, atentando para suas peculiaridades sociais, culturais, econômicas e políticas abarcadas por uma sociologia cotidiana, recorrentemente evidenciada na produção estrutural das notícias. Isto é, a prática discursiva operacionalizada nos programas de rádio, parecem ser uma forma de eco oriundo das regras que presidem a formação dos discursos, assim, o jornalismo, as propagandas, os editoriais dentre outros tipos de conjunto enunciativos, são regidos e determinados pelos modos de produção da vida material variando pontualmente no embate histórico da luta de classes.

Por conseguinte, as rádios e seus programas educacionais, musicais e jornalísticos são marcados por estas exterioridades, as quais, de certa forma são incorporadas como instrumentos de reprodução ideológica da classe dominante, integrando assim uma espécie de aparelho ideológico do Estado conforme definido por L. Althusser, “palco de uma dura e ininterrupta luta de classes”.


Saudações Democráticas,

Dayvid Sena

Prof. Mestre em Estudos de Linguagens.

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