segunda-feira, 1 de julho de 2024

JOGOS ONLINE E FAKE NEWS: UMA ONDA QUE DEU SURFE NO BRASIL.

         
 
       
 
        Numa sociedade onde uma parcela dos representantes congressistas são a favor da ampla propagação de 'fake news", inclusive se posicionando contra a regulação legal deste fenômeno social que se estabeleceu pela facilidade da circulação de "mentiras", as quais produzem efeitos no plano real e virtual da população, jogos como o "Tigrinho", tem ganhado adeptos no país, mesmo se valendo de promessas falsas para conquistar seus apostadores, ou seja, este jogo se apoia em informações mentirosas e parcerias com influencers que mentem para ganhar dinheiro a partir do prejuízo alheio. Em parte, tudo isso se torna possível, porque o Brasil não possui leis que regulam a circulação de "fakes news" nas redes sociais.
        Estes tipo de jogos que funcionam por meio de apostas virtuais, segue a mesma lógica de propagação das fakes news, quando desinformações, linguagens criadas com ajuda da IA, além de falsas promessas de ganhos estratosféricos são propagados em redes sociais e captam pessoas que, dentro do seu livre arbítrio, acreditam em propostas de enriquecimento fácil esquecendo que vivem numa realidade onde todos os seus dados pessoais são constantemente monitorados e compartilhados com grupos que visam lucrar e/ou vender produtos e serviços levando em conta o perfil de cada usuário das redes sociais.        
        Há pouco tempo, um grande pesquisador e operador de segurança, Edward Snowden, divulgou como todas as pessoas que vivem na Terra estavam sendo monitoradas a partir de seus "celulares", na época, o mesmo sofreu uma intensa perseguição e acabou tendo que se exilar em outro país. Neste sentido, podemos observar que esta rede de monitoramento abarca inclusive autoridades de diversos países e até mesmo a ex-presidentes, revelando que as pessoas comuns são ainda mais devassadas no que tange acesso e controle dos seus dados, sobretudo financeiros. Logo, o algoritmo destes jogos são utilizados para direcionar suas apostas e propostas de ganhos falsos "fakes" para pessoas que já estão em situação vulnerável e acreditam em nestes mecanismos como suposta tábua de salvação para seus problemas financeiros. 
        Portanto, parece que em função deste cenário, onde cada vez mais pessoas buscam fugas de seus problemas e substituem o conhecimento pela crença de 'ganhar", onde grupos sociais buscam solucionar seus problemas financeiros e existenciais de forma simples e automatizada, desconsiderando os interesses que estão nos bastidores dos jogos online. 
        Desta forma, milhares de pessoas estão cada vez mais se afundando em dívidas e enfrentando problemas que poderiam ser evitados, caso os impulsos emotivos e a vontade de faturar com um único toque na tela, fossem substituídos  por leis regulatórias destes dispositivos que ora afetam a vida política e as relações sociais numa sociedade ancorada na cybercultura do algoritmo fraudulento.

Saudações Democráticas !!!
 
 



 

 



sexta-feira, 9 de junho de 2023

CIDADES: PLANEJAMENTO E MOBILIDADE URBANA.

 


 

ARTIGO: CIDADES: PLANEJAMENTO E MOBILIDADE URBANA.


As cidades populosas enfrentam a cada dia um problema comum que revela lacunas nas políticas de urbanização do espaço público visando a garantia do direito cidadão ir e vir. Entretanto, nas últimas décadas vários mecanismos de melhoramento da mobilidade vêm sendo adotados nos grandes centros, a exemplo do BRT, metrô, ciclovias, corredores para motos, estacionamentos sinalizados e passeios livres para o movimento de pessoas. Por outro lado, em cidades de menor porte, geralmente no interior dos Estados, prevalece um crescimento urbano e comercial aparentemente sem planejamento e fiscalização, fato que produz verdadeiras crises urbanas quando a questão é a garantia do que preconiza o Estatuto das Cidades em seu artigo primeiro:


Art. 1º A Política Nacional de Mobilidade Urbana é instrumento da política de desenvolvimento urbano de que tratam o inciso XX do art. 21 e o art. 182 da Constituição Federal, objetivando a integração entre os diferentes modos de transporte e a melhoria da acessibilidade e mobilidade das pessoas e cargas no território do Município.


Dito isso, pode-se perceber que a mobilidade urbana é um direito consagrado pelas leis com base Constitucional, porém uma grande quantidade de municípios possuem dificuldades de implantar políticas públicas que respeitem e promovam desenvolvimento urbano responsável nos moldes estabelecidos pelo ordenamento jurídico vigente. O crescimento desenfreado somado a uma fiscalização limitada por parte de agentes dos municípios, revela uma mercantilização do espaço público, este cenário precisa de um olhar sensível por parte das autoridades, pois a cidade não pode ser objeto de interesses particulares, haja vista a importância que as Cidades desempenham na formatação dos costumes, direitos, cultura e economia.

Para Harvey (2008) a questão de que tipo de cidade queremos não pode ser divorciada do tipo de laços sociais, relação com a natureza, estilos de vida, tecnologias e valores estéticos que desejamos. Logo, a expansão de estruturas de concreto de modo a produzir poluição visual e física em lugares não planejados, compromete diretamente o direito individual de cada cidadão no que concerne a uma cidade organizada. Vale ressaltar que estas questões afetam diretamente as gerações atuais e futuras, precisamos cuidar da cidade que escolhemos para viver, afinal desde a invenção das Cidades, estamos destinados a viver e morrer nelas.

Neste sentido, todos os moradores da cidade devem se importar como a sua urbanização está sendo disponibilizada: Existem calçadas livres para caminhadas? As barracas são organizadas em lugar específico para suas atividades comerciais? As praças possuem acessibilidade ? Os jardins estão arborizados e limpos? As vias públicas permitem o trânsito com fluidez e segurança? Existem parques naturais na sua cidade e quadras esportivas? Estes são apenas alguns pontos que devem ser observados pelos donos das cidades, ou seja, nós moradores temos o dever de sugerir, criticar e representar quando qualquer um destes aspectos estiverem interferindo negativamente na construção de um ambiente que respeite os direitos coletivos e individuais dos transeuntes, afinal a suburbanização das cidades acarretam a transformação dos estilos de vida que impactam desde a aquisição de uma bicicleta, um carro ou até mesmo um velotrol.

A título de ilustração, vejamos o caso da criação do programa de moradia popular “Minha Casa/Minha Vida” quando a maioria das cidades alcançadas pelo programa, sobretudo em nossa região, onde foram instaladas diversas unidades, deste modo, faremos a seguinte pergunta: porque os responsáveis técnicos das empresas públicas financiadoras escolheram sua instalação em lugares com quase nenhuma infraestrutura de mobilidade urbana, Neste ponto, o local e a forma estruturante destes conjuntos habitacionais impactaram negativamente na mobilidade física e social dos beneficiários.

Enfim, trouxemos assim uma reflexão que visa alertar a população, os gestores (as) de cidades e instituições financeiras públicas que financiam projetos com impacto direto na mobilidade urbana. Portanto, antes de falarmos em desenvolvimento do turismo, do ambiente, do comércio das cidades, é primordial pensar sobre a distribuição do espaço urbano levando em conta o conceito de mobilidade.

 

Saudações Democráticas,  

Dayvid Sena / Professor Mestre em Estudos de Linguagens

Referências:

HARVEY, David. The Right to the city. New Left Review, n. 53, 2008.

 

sábado, 17 de dezembro de 2022

O TABULEIRO DAS ELEIÇÕES PARA CÂMARA MUNICIPAL

 

  



Ultimamente, o principal comentário nas esquinas de Jacobina é a disputa que envolve a próxima presidência da Câmara. A expectativa é geral, os atores políticos deram início aos diálogos há mais de 3 meses mas com o afunilamento do prazo para a convocação da eleição, os acordos e promessas já estão sendo alinhados, comenta-se pelos botecos que já existem até futuros candidatos (as) a prefeito (a) aplicando suas reservas materiais para interferir nesta disputa, objetivando a garantia de um capital simbólico para o pleito de 2024.

Entretanto, nosso enfoque de hoje busca contemplar outros olhares sobre questões subjetivas envolvidas no tabuleiro destas eleições. Para tanto, gostaria de lembrar aos leitores que nos últimos 20 anos não recordamos de nenhum prefeito que tenha governado sem o apoio da Câmara, ou seja, o governo atual parece ter sido o único não conseguiu reunir maioria para fazer a presidência do Legislativo. Assim sendo, acredito que essa próxima legislatura carregará um valor vital para o fortalecimento ou enfraquecimento da gestão em curso. Ventila-se pelos bastidores que as costuras já estão bem avançadas e um dos nomes nesta corrida é o vereador Clodoaldo de Itaitu, o mesmo conta com o apoio de vereadores do PCdoB e de outras legendas que integram ou querem integrar o governo a partir de 2023.

Toda eleição para a presidência tem um peso imenso, pois dentro do formato do regimento da Câmara Municipal de Jacobina, o presidente tem poderes parecidos com o de um Rei. A maioria das decisões são tomadas exclusivamente pelo presidente, além do controle total sob as pautas das sessões que garantem um poder de manobra significativo, ele controla e executa todos os recursos recebidos pela Casa Legislativa que atualmente perfazem mais de 1 milhão por mês, podendo chegar a 1,5 milhão a partir de 2023.

Ao que parece, o cofre do Poder Legislativo é um prato cheio para os atores políticos que almejam uma plataforma robusta onde é possível criar condições singulares para voos ainda mais altos, como a possibilidade de compor como Vice numa eventual eleição para o Executivo ou até mesmo a cabeça de Chapa com vistas à conquista do cofre da Prefeitura. No jogo do poder, até o dia 22/12/2022, data limite para realização das eleições, muitos esforços serão encampados para a manutenção do poder, do lado da oposição, um grupo de políticos maduros com muita estrada rodada e “bala na agulha”, do lado do grupo do gestor municipal, um conjunto de jovens políticos que estão aprendendo o movimento das peças no xadrez legislativo, embora a maioria seja de novatos, contam com a experiência de um ex-presidente da câmara que sabe bem como posicionar as peças para constituir um embate vitorioso. Contudo, somente o movimento das madrugadas vão dar o ritmo e definir o êxito desta disputa.

Portanto, até lá, cada jogador deve posicionar suas peças no tabuleiro da Câmara e, com bons movimentos de abertura, promover uma estratégia que permita atacar o rei adversário impondo lhe o tão almejado xeque-mate que definirá os rumos políticos do Legislativo e do Executivo nos próximos dias.



Saudações Democráticas,


Dayvid Sena

Professor Mestre em Estudos de Linguagens

sábado, 3 de dezembro de 2022

DESINFORMAÇÃO EM REDE: A CRIAÇÃO DA REALIDADE PARALELA

 



O advento da internet e suas imensas possibilidades de compartilhamento do conhecimento favorecem a criação de uma inteligência coletiva, esta premissa, foi defendida pelo escritor francês Pierre Levy durante os anos 90. A possibilidade de novas formas de leituras através das superfícies hipertextuais, escritas coletivas e a infinitude dos links (conexões) no modo das costuras digitais, colocaram em cena, uma nova promessa de desenvolvimento coletivo planetário.

Contudo, o acesso às tecnologias da inteligência tem instalado grandes desafios para os países e suas instituições nos dias atuais. O entrecruzamento de informações desinformantes (mentiras vestidas de verdades) tem provocado o surgimento de diversos mundos paralelos, talvez a facilidade e o comodismo que afeta boa parte das pessoas que preferem receber a “verdade” pronta, por meio das imagens forjadas ou editadas com auxílio de tecnologias como o Deep Fake, têm produzido um grande ruído na sociedade contemporânea, haja vista a velocidade com que estes recortes desinformantes circulam pelas diversas camadas sociais, não permitem contestações tempestivas dos usuários que são alcançados pelas redes sociais, além disso, a disposição frenética que cada membro do mundo digital desenvolve no intuito de consumir o máximo de informações numa velocidade acrítica, amplia cada vez mais seu acesso às engrenagens de uma realidade paralela azeitada pelas informações desinformantes.

O cenário de confusão é geral, chegamos ao ponto de pessoas na fila do supermercado, da farmácia, mesa de bares e até na pausa para o cafezinho, comentarem as pautas com mais aderência nos apps de redes sociais, sem falar que o modo de contestação mais utilizado reside na apresentação de uma imagem ou um texto (geralmente sem autoria) que circulou pelo grupo do Zap da família. Ou seja, a capacidade de simulação de uma realidade paralela tem se tornado uma instância real na sociedade moderna, o afastamento da maioria das pessoas do conceito de dúvida, a supressão da contestação e a incapacidade de fundamentação baseada em métodos razoáveis, parece conduzir boa parte dos usuários das redes sociais ao abismo da ignorância, ao ponto de defenderem qualquer coisa, por mais inusitada que seja, baseando-se apenas numa imagem ou um texto compartilhado por um amigo, pessoa famosa ou parente no grupo da família. Todos estes elementos apontam para um novo comportamento social, funcionam como um instrumento para a simulação de uma realidade paralela abstrata, comprometendo de forma drástica o resgate da realidade concreta, outrora, assentada em fatos, métodos e fundamentação científica.

Por outro lado, podemos ainda apreender todo este contexto distópico como resultado da aplicação de técnicas da psicologia de massa, as grandes corporações quando desenvolveram tais aplicativos aparentemente já sabiam a dimensão do poder de controle sobre as pessoas diante da ampla penetração social dos aplicativos de mensagens.

Portanto, o grande desafio das instituições que compõem o Estado moderno é a retomada das discussões referentes aos problemas e soluções minimamente concretos, pois numa atmosfera onde pessoas apontam até seus celulares para o céu achando que vão se comunicar com seres extraterrestres, outros afirmam “sem provas” verem entidades descerem em pés de goiaba e alguns se recusam a tomar vacina com medo de “virar jacaré”, certamente, a condição racional humana parece ter se diluído por meio das linguagens propagadas pelas redes sociais, colaborando assim, para a construção de um mundo paralelo capaz de capturar multidões.


Saudações Democráticas,


Dayvid Sena

Professor Mestre em Estudos de Linguagens



domingo, 27 de novembro de 2022

A TV, a Radiodifusão e as Relações de Poder.

 



Certamente a mídia de massa como a TV e o Rádio desenvolvem suas atividades comunicacionais a partir das relações de poder estabelecidas por meio de uma pirâmide social que reflete a organização de classes. Em suma, os mecanismos massivos de comunicação operam para manter o status quo das classes dominantes sobre os ouvintes, destinatários e espectadores de modo geral. Esta característica supracitada pode ser percebida com pouco esforço no interior dos Estados, sobretudo pela importância e abrangência da mídia radiofônica, uma vez que é de praxe escutar a “rádia” como prática cultural consolidada no espaço urbano e rural.

        Neste sentido, pretendemos realizar uma breve reflexão sobre o tema, observando o comportamento das narrativas do rádio no interior da Bahia, em específico na cidade de Jacobina, onde apreciaremos os aspectos relativos às instalação destes dispositivos de massa e sua relação com as classes sociais, buscaremos construir um olhar crítico sobre as deliberações políticas que desembocam no controle e acesso ao discurso público por pequenos grupos sociais historicamente privilegiados.

As relações entre Discurso e Poder Social sempre desembocam no controle dos dispositivos de comunicação, estes embates implicam os diversos tensionamentos políticos, econômicos e socioculturais que sugerem o estabelecimento de uma rede de dominância entre as classes. Pensar que o rádio ou qualquer outra mídia de massa promove a visibilidade das pautas de modo neutro é mera ingenuidade, pois num horizonte capitalista, todas as pautas da comunicação nacional ou local são objeto da disputa política. Dentro deste enquadre, estamos assistindo neste exato momento as relações contraditórias da Copa no Mundo no Catár/2022, onde boa parte da mídia prefere dar visibilidade aos hotéis de luxo, regalias dos jogadores, edifícios grandiosos e outros símbolos de ostentação da riqueza ditadora real, deixando de exibir a exploração da mão de obra em regime de neo escravidão amplamente utilizada para erguer aquelas estruturas de concreto, ou seja, mesmo sabendo-se que milhares de vidas foram ceifadas sem a garantia mínima de direitos/dignidade para os trabalhadores e as famílias órfãs, a venda de produtos e o lucro se sobrepõe a qualquer sentimento de responsabilidade social ou dignidade da pessoa humana. Enfim, este é apenas um exemplo do poder de manipulação da mídia, a qual aponta seu microfone ou sua câmera para o objeto que atende seus interesses financeiros e políticos de primeira hora.

A suposta neutralidade do sujeito falante e destes dispositivos acerca de qualquer fato é uma premissa inalcançável, pois todo fato/acontecimento é passível de interpretação, assim, a instância da interpretação é onde reside o funcionamento das ideologias, são estas redes de sentidos que garantem os significados dos fatos e/ou acontecimentos no plano da interpretação de cada ator social.

            O que poucas pessoas sabem é que os serviços de rádio e televisão no Brasil e no mundo operam por meio de uma concessão pública, ou seja, a União concede uma licença para o uso do espaço "eletromagnético", frequência teoricamente pública geralmente operada por um ente privado. Para adquirir uma destas disputadas permissões é necessário ter boas relações com o Estado, sobretudo com deputados no nível federal, pois é no legislativo que se renova as concessões que são analisadas previamente pelo ministério das comunicações responsável por conceder e publicar os pedidos exigindo em contrapartida privilegiar a função social em detrimento do interesse privado.

Outro fato relevante, sobretudo no Estado da Bahia, as concessões de rádio geralmente são delegadas para particulares em regime de sociedade com os políticos, a exemplo disso podemos citar o caso das rádios Clube Rio do Ouro e da Jacobina FM ambas operando em Jacobina desde os anos 80. A primeira faz parte do grupo que inicialmente teve como sócio o ex-político Pedro Irujo que exerceu 4 mandatos de Deputado Federal e atuava como empresário em diversas áreas, dentre as quais o rádio. A segunda teve participação acionária do também conhecido político Félix Almeida Mendonça, ex-prefeito de Itabuna e deputado estadual e federal pela Bahia.

De modo geral parece existir claramente uma relação de conflito de interesses quando o assunto é a operação dos dispositivos da comunicação de massa, seja em rádio ou TV. Ainda nessa seara, lembramos do famoso episódio de um velho cacique da política baiana, Antônio Carlos Magalhães, na época ocupou o cargo de ministro das Comunicações do governo Sarney (1985-1990) quando contemplou seus aliados políticos com mais de 958 concessões de rádio e TV num eventual flagrante do uso destes mecanismos com moeda de troca política.

Desta forma, é importante avaliar as características sistêmicas das notícias, atentando para suas peculiaridades sociais, culturais, econômicas e políticas abarcadas por uma sociologia cotidiana, recorrentemente evidenciada na produção estrutural das notícias. Isto é, a prática discursiva operacionalizada nos programas de rádio, parecem ser uma forma de eco oriundo das regras que presidem a formação dos discursos, assim, o jornalismo, as propagandas, os editoriais dentre outros tipos de conjunto enunciativos, são regidos e determinados pelos modos de produção da vida material variando pontualmente no embate histórico da luta de classes.

Por conseguinte, as rádios e seus programas educacionais, musicais e jornalísticos são marcados por estas exterioridades, as quais, de certa forma são incorporadas como instrumentos de reprodução ideológica da classe dominante, integrando assim uma espécie de aparelho ideológico do Estado conforme definido por L. Althusser, “palco de uma dura e ininterrupta luta de classes”.


Saudações Democráticas,

Dayvid Sena

Prof. Mestre em Estudos de Linguagens.

sábado, 6 de agosto de 2022

Os sentidos mobilizados pela palavra "Bicões": Uma leitura sobre o funcionamento do rádio em Jacobina.

 
 
"As grandes empresas de mídia brasileiras não querem que o seu formidável poder de indução seja sequer argüido. As grandes empresas de mídia brasileiras estão na contramão do processo democrático baseado na equação poder-e-contrapoder"
 Alberto Dines (20/9/2000)

 

        Ultimamente, um acontecimento social levou muita polêmica para o rádio Jacobinense e para a imprensa local de forma geral. O fato é que durante uma transmissão por meio de rede social, o prefeito de Jacobina utilizou o termo "Bicão"  para se referir aos âncoras das emissoras de rádio local.

        Deste modo, iremos tomar este termo para realizarmos uma breve análise dos sentidos mobilizados pelos dizeres do então prefeito à luz da teoria do discurso de linha francesa. Nesta corrente teórica as palavras, expressões e proposições recebem seus sentidos a partir de formações ideológicas.
        Primeiramente, devemos salientar que o termo "Bicão" não possui o mesmo sentido para quem profere nem para quem escuta. Haja vista que os enunciadores de tais termos se encontram em formações sociais diferentes e, assim, os efeitos destas palavras mobilizam sentidos distintos tanto para os ouvintes/leitores quanto para os autores, ou seja, as repercussões que ocorreram se deram exatamente por conta dos sujeitos falantes estarem em posicionamentos ideológicos diferentes. 
        Para esclarecer melhor, vamos usar um exemplo clássico: Quando o patrão diz/escuta a palavra "salário" ela carrega sentidos totalmente distintos da expressão "salário" para o empregado, enquanto o patrão enxerga uma carga onerosa, o trabalhador vê como algo que precisa ser valorizado e garantido para a sua sobrevivência. Deste modo, o termo "Bicão" quando utilizado por um sujeito ocupante do mais alto cargo do Poder Executivo municipal, deriva sentidos que se referem ao conchavos realizados historicamente entre os prepostos da mídia radiofônica e os "donos" da chave dos cofres públicos. Portanto, a expressão "Bicão" constituiu sentidos que foram interpretados pelos "Bicões" locais como algo não diplomático, já que antes da atual gestão, os acordos entre poder e mídia radiofônica eram realizados de forma privada (por meio de contratos) e raramente o ouvinte percebia porque diante de tantas demandas públicas na zona urbana e rural, os "microfones" conseguiam filtrar as pautas polêmicas evitando discussões que envolvessem os fortes indícios de superfaturamento e/ou corrupção praticados nas gestões anteriores, a gestão dos "doutores e empresários".
      Outro ponto que chama atenção na prática social de boa parte dos "microfones" do rádio, reside na quase inexistência do jornalismo investigativo, o funcionamento deste dispositivos se dá na grande maioria por meio de "copiar e colar" textos/machetes de outros veículos, onde pouco se importa se tais machetes traduzem ou não fatos que refletem a verdade, o que vale mesmo é a propagação de factoides polêmicos e a captação de audiência. Desta forma, é neste cenário que os sentidos produzidos pela expressão "Bicões" ganha significado e se propaga pelas ondas das emissoras de rádio sediadas no município.
        Desde a mudança das rádio educativas (década de 20) para o formato de rádios comerciais, onde o próprio nome já diz, trata-se de um comércio "quem pagar o preço" leva a mercadoria, isto é, a mídia comercial visa desde sempre o lucro de poucos, em detrimento dos anseios de muitos ouvintes, os quais por questões culturais utilizam o rádio geralmente como meio de tentar resolver alguns problemas que por décadas estão sob responsabilidade da seara pública, muitos sem solução até os dias de hoje.
        Além disso, a palavra "Bicões" produz uma espécie de relativização dos discurso do rádio quando afirmam por meio de suas propagandas que o "rádio só fala a verdade", deixando de considerar que uma mídia comercial fala a verdade na medida em que esta suposta verdade não lhe traga prejuízos, ou seja, nem sempre os anseios da coletividade serão defendidos ou debatidos naquele espaço, sobretudo se houver pautas que prejudiquem os interesses do anunciadores pois são eles que pagam para que a propaganda (a impressão) seja transmitida como verdade absoluta. 
        Apenas a título de exemplo, aquele remédio que cura tudo e "ressuscita até defunto" anunciado dia e noite pelos "microfones" dificilmente poderia eventualmente ter seus efeitos de cura questionados, pois os comerciais são consagrados com uma "verdade" irrefutável, operam como uma afirmação não questionável, garantindo seus objetivos finais, a geração de lucro para quem anuncia e para quem vende. Por conseguinte, vamos ficar somente neste exemplo para não aprofundarmos as contradições inscritas na proposição "Bicões".
        Dito isso, gostaríamos de lembrar que as emissoras passaram a reorganizar as pautas de seus programas jornalísticos por força da ruptura histórica ocorrida no Poder Executivo local desde o ano de 2020, geralmente, é por meio de comentários e opiniões proferidas pelos "microfones" que os prefeitos das cidades se sentem coagidos e buscam alianças com os atores do rádio, alguns logo no início outros deixam para queimar as verbas quando está se aproxima o novo pleito eleitoral. Contudo, no caso de Jacobina, vale ressaltar que desde a redemocratização, o Poder Executivo municipal nunca havia sido tirado das mãos dos caciques tradicionais, isto é, sempre transitava de uma família para outra, numa espécie de Dinastia, orbitando numa seara hegemônica constituída geralmente pela classe médica Jacobinense e alguns forasteiros "importados" pela mesma casta.
        Pois bem, adentrando no universo histórico e seu contexto radiofônico,  gostaríamos de destacar um ponto comum na mídia local, durante as gestões lideradas pelas classes supracitadas, boa parte dos programas jornalísticos, optavam estrategicamente por um enfoque nas pautas ligadas ao governo federal, ou seja, os deslocamento do debate para o âmbito federal, deixando de elencar problemas importantes ligados ao universo municipal, este comportamento também se inscreve nos sentidos mobilizados pelos dizeres do prefeito ao sugerir o adjetivo "Bicões". Tanto é que nas últimas 3 décadas, os cofres públicos receberam aproximadamente 22 bilhões de reais e quase nenhuma obra estruturante foi erguida no município, aqui a expressão "bicões" ganha outros contornos que marcam o silêncio de muitos "microfones" supostamente comprometidos com o bem coletivo.  
        Talvez,  se a mídia radiofônica fosse constituída por menos "Bicões" e mais Jornalistas, sobretudo os jornalistas investigativos, o contexto social e político de nossa cidade poderia estar muito melhor, mas ao que parece estas emissoras de radiodifusão ocupam suas pautas e produzem seus editoriais numa perspectiva comercial, haja vista as mais de duas décadas onde a única coisa que se discute são os buracos da cidade e a plataforma da saúde pública que serve como trampolim para os candidatos que almejam o Poder Executivo. Uma pergunta que gostaria de fazer ao leitor, se a saúde pública não funcionar qual segmento profissional deve ganhar com isso? Observem que a luta de classes e as eventuais sabotagens estão em todos os lugares, são exatamente estes embates e os posicionamentos dos sujeitos que determinam os sentidos das palavras e dos enunciados proferidos pelos interlocutores de modo geral. 
        Deste modo, trouxemos à baila alguns elementos que servirão de base comparativa com o cenário atual, uma vez que desde o ano de 2020 após a mudança do espectro político que dominava o Executivo local, gradativamente os "microfones" passaram a enfatizar supostos problemas na gestão municipal. Nesta perspectiva, as forças atuais que ocupam o governo federal parecem ter a simpatia da maioria dos "microfones" que ocupam os estúdios da rádio locais, sobretudo quando observa-se um grande número de jornalistas sendo vítimas cotidianas de ataques e até mesmo agressão durante o exercício de sua profissão, e muito pouco se propaga na pauta do rádio jornalismo, ou seja, o próprio movimento de escolha das pautas nestes programas de rádio já demonstra uma inclinação político que se inscrevem nos sentidos revelados pela expressão "Bicões".
        Não obstante, os efeitos de sentido examinados na materialidade linguística "Bicões" revela que as práticas discursivas encampadas a partir do espaço radiofônico coloca em xeque a premissa de que as emissoras de rádio locais seriam neutras, pois no mundo onde as regras políticas são ditadas pelo capital e seus aparelhos ideológicos, nenhum sujeito e/ou instituição social pode atribuir a si próprio a condição de neutralidade. 
        Por fim, depois das modificações no tabuleiro político municipal e federal, houve uma reconfiguração no funcionamento das práticas ideológicas propagadas pelas "rádias", tais mudanças refletem a nova configuração histórica instalada a partir da reorganização das forças políticas no plano municipal, estadual e federal nos últimos 4 anos. Por isso,  Pêcheux (2014) afirma que é a ideologia que fornece as evidências pelas quais todo mundo sabe o que é um soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve...tais evidências que fazem com que um enunciado "queira dizer o que realmente dizem" e que mascaram, assim, sob a "transparência da linguagem" o caráter material do sentido das palavras e dos enunciados.
        Em conclusão, sabemos da importância do bom jornalismo em prol da democracia e do bem comum, entretanto, quando os dispositivos de comunicação são gerenciados pelo capital privado, os objetivos comuns passam a ser substituídos pelos interesses de pequenos grupos sociais detentores do quarto poder (a mídia de massa) que  disputa o Poder, esta constatação, é facilmente verificada pelos sintomas atuais de parte da comunicação radiofônica local.  O jogo das pautas somado ao tom político pelo qual notícia é levada ao ar, exibe, materialmente, o quanto alguns programas rádio jornalísticos se confundem com torcidas organizadas, tais posicionamentos revelam as práticas ideológicas presentes na conjuntura dada,  a qual determina o estado da luta de classes instalada no momento histórico vigente.

Saudações democráticas, 

Dayvid Sena. 
Mestre em Estudos de Linguagens.

 

domingo, 12 de junho de 2022

AS CHANTAGENS E AMEAÇAS À ORGANIZAÇÃO SINDICAL: UMA ANÁLISE NO TERRENO DOS METALÚRGICOS JACOBINENSES!!!

 


"Quem se ajoelha diante do fato consumado, será incapaz de enfrentar o o futuro" 

Leon Trotksy.


Sabemos que após as reformas da Previdência e Trabalhista, a maioria dos trabalhadores brasileiros perderam uma fatia importante da valorização da mão de obra e do seus direitos, além de uma aposentadoria digna. Associado a estes acontecimentos que se estabeleceram no âmbito federal, a classe trabalhadora tem assistido uma série de ataques quando o assunto é o direito da livre associação sindical. Para falar sobre isso, iremos analisar um caso recente que reflete como estas chantagens contra os trabalhadores ocorrem, afetando os mecanismos de reivindicação dos seus direitos e valorização da mão de obra.

Após anos de lutas e conquistas lideradas pelos o Sindicato dos Metalúrgicos de Jacobina e Região (STIM Jacobina), a categoria vem sofrendo uma série de assédios que estão culminando na demissão de importantes lideranças sindicais. Segundo informações dos metalúrgicos que trabalham nas Torres TEN alguns diretores do supracitado sindicato foram vítimas de demissões sumárias em virtude de suas atividades sindicais. Estes episódios se intensificaram após o STIM organizar a maior paralisação de trabalhadores nos últimos 30 anos de atividade sindical em Jacobina. A mobilização ocorreu no espaço em frente ao Aeródromo local e reuniu mais de 200 trabalhadores, todos mobilizados pela garantia de seus direitos e a valorização da força de trabalho. Ocorre que após esta intervenção do sindicato, todos os diretores e parte dos participantes da mobilização foram demitidos, um a um. Este comportamento da empresa reflete uma série de ameaças e ataques aos direitos e necessidade dos trabalhadores, este tipo de censura constitui ilegalidades que devem ser repreendidas. Tais chantagens afetam o debate e a organização de pauta de modo democrático.

Em virtude desta capacidade de organização e enfrentamento, a direção da TEN resolveu demitir sem justa causa o metalúrgico e presidente do STIM – Rogério Moraes. Mesmo cumprindo com suas atividades laborais cotidianas, o sindicalista foi covardemente reprimido por exercer um direito constitucional garantido na carta magna: todo o trabalhador é livre para se associar ou não no seu respectivo coletivo de classe.

Neste sentido, o momento exige uma reflexão por conta dos trabalhadores e demais setores da sociedade jacobinense, haja vista que tais medidas arbitrárias atingem todos os demais segmentos sindicais e deve ser veementemente repudiado. O momento atual exige uma capacidade de avaliar estes comportamentos como uma posição ideologicamente desfavorável à luta sindical. Casos como estes não podem ficar sem discussão e avaliação dos metalúrgicos e demais trabalhadores de outras esferas. A própria aprovação de uma reforma que enfraquece os ganhos dos trabalhadores e os colocam em situação de vulnerabilidade mostra o quanto necessitamos interpretar estes acontecimentos como algo simbólico, certamente, se os trabalhadores estivessem atentos e conscientes de suas escolhas políticas, “deformas” como a da Previdência e Trabalhista não teriam sido aprovadas, nem mesmo ameaças aos sindicatos.

Portanto, além de observar os acontecimentos no chão da cidade, os demais líderes sindicais devem ser organizar para reformular a luta com vistas à inversão da ordem política ora estabelecida na atmosfera federal com e seus efeitos no chão de cada município e unidade fabril.

Com a proximidade das eleições para o congresso nacional e a presidência da República, cabe a cada trabalhador e trabalhadora avaliar o contexto e fazer escolhas políticas que mostrem nossa indignação com as “deformas” aprovadas pelo congresso, temos a oportunidade única de escolher representantes que defendam os interesses dos trabalhadores e o respeito às conquistas históricas registradas na CLT.

Ao nosso valente guerreiro sindical Rogério Moraes, registramos aqui nossa solidariedade e disposição para retomar a luta em prol dos trabalhadores de nossa cidade, não podemos nos contentar com salários defasados, precariedade das condições de trabalho e de vida, se são os trabalhadores que produzem o lucro e as mercadorias, nada mais justo do que garantir a dignidade e a valorização de todos os metalúrgicos e trabalhadores municipais. A luta irá continuar até que todos os trabalhadores estejam conscientes do seu papel enquanto ente detentor da força motriz na produção da riqueza, esta riqueza, precisa ser descentralizada e dividida de forma justa com os trabalhadores e trabalhadoras de Jacobina.


Saudações Democráticas,


Dayvid Sena.

Professor e Pesquisador em Estudos de Linguagens.